sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O bullying e a linguagem corporal

“Mãe… começo-me a aperceber que afinal os bons amigos, não são assim tantos naqueles momentos maus! Se pensarmos bem, os cães estão sempre felizes por nos ver e nunca nos traem, o mesmo já não se pode dizer daqueles que achamos que são amigos!”

É tão interessante ver como estes valores tão transversais, já tocam os miúdos e que eles reflectem e pensam sobre as formas de (não) agir.

Este tema surgiu numa das nossas muitas conversas, onde a minha filha falava com tristeza a rapidez com que as amigas viravam-lhe as costas. Uma colega disse que ela era "mandona" e convenceu um grande grupo a não lhe dirigir a palavra, nem sequer partilhar qualquer brincadeira… Sabemos que os "grupinhos", não é novidade, mas a crueldade é algo que me perturba, mais ainda quando falamos em miúdos de 7, 8 anos… A vantagem destas idades é que no dia seguinte, já todos se esqueceram e brincam de novo sem ressentimentos.
Para mim, creio no entanto que será fundamental estar atento, porque podemos leva-los a tirar conclusões sobre os comportamentos, e reflectir sobre como agir.
Não tanto para estar constantemente a protege-los de tudo, mas dar-lhes sim, ferramentas de acção e reacção e até serem elementos dissuasores, já que no futuro e na sociedade, a indiferença, o preconceito, a injustiça, a opressão não poderão ser evitados, nos vários contextos com que se irão deparar…
Esta reflexão é um exercício importante, desde a infância, para prevenir o bullying, a exclusão, a agressão…
Há algo que lhes repito com alguma frequência: “As nossas atitudes, nunca devem acontecer apenas porque todos os outros fazem (ir atrás da maioria), mas sempre porque convicção!”.
E falámos como há comportamentos que nunca são justificáveis, independentemente “de quem tem razão”. Excluir, maltratar, ostracizar, agredir, nunca é justificável mesmo com a dita razão!
Depois há aqui outro factor, que muitas vezes nem os adultos se apercebem – 65% a 75% da nossa linguagem é Não-verbal. Logo, a forma como o outro reage connosco dependerá em muito da nossa postura. E considero muito relevante ensinar isto aos miúdos, para evitar o tal bullying quer físico quer psicológico.

Há 2 motivos principais, pelos quais podemos ser alvos dos colegas:
- Porque andamos numa postura corporal fechada, encolhida, se somos mais “enfezados” e se se fala mais a medo, mostrar insegurança – estamo-nos a tornar mais pequenos, mais vulneráveis e portanto alvos mais fáceis.
-Outro motivo, é porque somos fortes, confiantes ou bem-sucedidos – seremos também alvo da inveja, e isso às vezes é um alvo a abater. (Foi o que lhe aconteceu com a acusação de ser "mandona").
Ao reflectir isto com os miúdos, vemos que os próprios exemplos que eles dão de colegas, se encaixam neste padrão, os mais “fracos”, são recorrentemente aqueles que também são alvos dos outros. Porque o ser humano gosta de se sentir mais poderoso, e fazê-lo à custa dos mais fracos é um caminho fácil, ainda que cobarde.
Por isso incentivei-lhe a prática de desporto, porque melhora postura corporal, porque os ajuda a sentir mais confiantes e porque pode ser um aliado perfeito para evitar que o nosso filho seja o “fraco”.
Há uns tempos (1,5 ano atrás), ela também tinha sido alvo de uns miúdos que resolviam bater-lhe… e já desde aí começou a nossa conversa sobre a postura corporal. Na altura disse-lhe: “Não mostres medo, nunca te encolhas, porque às vezes as pessoas são como os cães, elas sentem o teu medo e fazem pior…” Resultou lindamente…ela disse: “mãe, eu levanto o queixo e o peito e bato com o pé…e eles parvos fogem!”- disse, com sorriso de conquista! ( …E estamos a falar de 4 rapazes contra 1 miúda da mesma idade).
Estes são exemplos concretos, que se nós pais acompanharmos o seu dia-a-dia, as suas ansiedades, podemos dar-lhes as ferramentas de como agir, reagir e evitar outros problemas maiores. Não será por acaso que ouvimos notícias de suicídio juvenil, maus tratos e uma dura crueldade nas escolas que deveria ser trabalhada também a partir de casa.

Eles compreendam e absorvem, e porque precisamos conhece-los e acompanhar estas ansiedades. Não é valorizar quezílias de miúdos, mas é usar estes episódios como objecto de reflexão das nossas próprias ações.
E vemo-los crescer, com esta maturidade de quem já percebe que a amizade é um valor raro, que a crueldade está em todo o lado, e que nós temos a responsabilidade de denunciar situações impróprias, por vezes defender os mais fracos, de sustentarmo-nos por valores e agir sempre por convicções.
Na vida a nossa credibilidade, constrói-se pela confiança que transmitimos, e assim se ganha o respeito, mas isto passa muito pela nossa atitude…

Porque na vida, a atitude faz toda a diferença e isso passa em muito na nossa linguagem corporal

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