terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Já ouviu o seu filho hoje?



Já ouviu o seu filho hoje?
Enquanto mãe, há pequenos segredos que vou descobrindo, pequenas maravilhas que considero que fazem toda a diferença no papel que podemos desempenhar enquanto mães, educadoras, confidentes... Escutar, mas escutar activamente é algo que se vai perdendo, e que tantas desculpas achamos para não o fazer: são muitas actividades extra-curriculares, são os jantares, banhos, sair do trabalho, buscar os miúdos, tarefas domésticas, etc,etc..
Achamos 1001 desculpas para nos justificarmos da nossa incapacidade de conversar com eles e parar para simplesmente escutar! Parece simples, mas na realidade é preciso repensar a nossa forma de actuação e chega de desculpas!!! Já ouvi coisas como: "ah, mas eu não tenho a sua vida!"; "ele nunca me conta nada"..este tipo de generalizações e de desculpas, não justificam o que acaba muitas vezes por acontecer - as pessoas não conhecem os filhos que têm, porque na realidade, também elas NÃO PARAM para os conhecer.. e a resposta que os miúdos nos dão, passa muito pelos exemplos que lhes transmitimos na nossa forma de agir.

Ok, é complicado...sim eu sei, também tenho filhos, eles também têm actividades e a rotina do dia-a-dia, é por vezes tão a correr de uma forma quase cronometrada que não sobra espaço para quase nada.
Mas, também acredito, que arranjamos sempre espaço, para aquilo que realmente consideramos importante, e independentemente da vida de cada um, meus amigos - É só uma questão de prioridades!
Com isto digo, que não chega perguntar como foi o dia, o que fizeram aqui e acoli... há que mastigar as conversas e reflectir sobre os acontecimentos. Um filho que é agitado ou lá o que quiserem chamar... actua muitas vezes apenas para chamar a atenção. E o mau comportamento ou a forma menos própria, é muitas vezes um alerta vermelho!
Sim, ele precisa de atenção, aliás nós humanos nascemos programados para ser egoístas, e nos primeiros anos, o mundo gira à sua volta, algo que se prolonga durante algum tempo...e que muitos nem chegam a deixar de ser egoístas, porque na realidade têm ainda muitos défices de atenção. Isto leva muitas vezes a comportamentos pouco lógicos, mas que mesmo com os tais raspanetes ou palmadas, resultou para a criança, porque mesmo sendo a mal - ela teve a atenção que tanto queria!!! Por isto, é que só o ralhar muitas não resulta para corrigir comportamentos impróprios.
A criança precisa de saber e sentir que é compreendida, de ter espaço para contar os seus anseios, as suas frustrações, os seus medos, os seus sonhos, e isto não se consegue com conversas de circunstância onde se faz um relatório do dia - há que "perder tempo" e conseguir aprofundar e chegar a um estado de calma, sem artifícios.
Pensemos bem, não repelimos mais do que escutamos? "agora não me chateis; deixa-me trabalhar; deixa-me ver as notícias; não interrompas os adultos..." Ok, há tempo para tudo...mas ao fim do dia, o que pesa mais na balança? Escuta-los ou as nossas rotinazinhas?

Eu costumo dizer, que acho as conversas deles "deliciosas", porque têm uma profundidade e maturidade filosóficas, que é imperdoável passar-me ao lado.
Agora partilho alguns truques que funcionam comigo: troque a telenovela, o concurso ou os desenhos animados que até os miúdos vêm consigo, por uma conversa sem ruídos electrónicos. Quando eles me dizem: "podemos ficar acordados mais um bocadinho?" eu respondo: ok, mais 30 min, mas desligamos a TV e os jogos e conversamos. Isto resulta bem melhor antes de ir para a cama, porque já estão muito menos acelerados e estão com aquele compromisso de evitar a hora de dormir, então muito mais permissivos ao que lhes dizemos.
Gosto de me enfiar na cama com eles, e ficamos ali deitados a conversar a meia luz...

A conversa até pode começar por rever acontecimentos do dia, mas aproveito isso para lhes perguntar o que pensam sobre certas atitudes, como é que deveria ter sido resolvido determinado problema, o que eles sentem quando se deparam com certas situações, e ouvir, ouvir, fazendo algumas perguntas para conduzir a conversa, com o intuito de entender as suas percepções e visão do mundo. Ao mesmo tempo, é sempre um oportunidade para mostrar valores, a necessidade de agir por convicções e reflectirmos como às vezes os adultos são tão complicados e que as respostas estão mesmo nas crianças. É quase como estar no divã do psicólogo e fazer um exorcismo de alma. Ao mesmo tempo, sinto que ganho a sua confiança, porque eles sentem-se ouvidos, sentem-se protegidos, sentem que valorizamos a sua opinião, desta forma damos-lhe uma atenção num nível de profundidade e de aproximação. Assim eles não vão precisar de chamar a atenção de forma errada, e deixar de ser tão egoístas, ajuda-los a reflectir sobre o mundo dar-lhe-à ensinamentos sobre como estar e como agir e o mais importante: ficamos verdadeiramente a conhecer os nossos filhos.
Não acha que vale a pena trocar a novela por isto??? Afinal o mais importante são as crianças, e o futuro semea-se hoje, com uma construção diária.

Quando publiquei este texto no meu facebook, tive 38 partilhas..bem, não esperava tanto, até porque o perfil é exclusivo para amigos (e não tenho assim tantos). Mas acabou sendo publicado em perfis de associações infantis, passando a a estar público...
É gratificante ver o reconhecimento dessa forma... longe de mim a pretensão de ditar métodos, mas creio que se partilhar os meus momentos, poderei incentivar outros a fazerem as suas conquistas. ;)

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