terça-feira, 18 de março de 2014

O tuga rezingão precisa de voltar a sonhar…

“Oh, já fomos grandes”; “os culpados da crise são os ricos”; “estamos a ser roubados aqui a acoli”… é o discurso fatalista típico do tuga, onde até fica mal contrariar. Porque se somos otimistas, então é porque somos de direita ou somos empresários, logo privilegiados, cheios de mordomias, cuja visão se deve a uma vida de compadrios, onde a classe patronal suga a vida dos trabalhadores que escraviza.
Então, ser de esquerda, é ser solidário, queixar-se do dinheiro que não chega até ao final do mês, falar mal do governo, dos árbitros, da justiça… estar constantemente indignado com a “roubalheira” de que somos alvos diariamente; sem saídas e sem dinheiro. Tende-se a generalizar demasiado e polarizar lados. Todos falam da boca para fora para apontar culpados, queixam-se da sua desgraça, mas numa dualidade estranha, também conduzem bons carros, smart phones e tablets e exibem mordomias caras.
Sim, concordo que há muitas falhas na justiça em Portugal; que o rendimento disponível das famílias é cada vez mais diminuto; que há demasiado desemprego, é tudo verdade… mas as estatísticas não são tudo, não nos devemos reduzir a números.
Esta discussão constante focada nos problemas tem a meu ver, consumido demasiada energia, e acaba reduzindo a capacidade humana e neste caso portuguesa de ação e reação, acabando por toldar e estreitar tantos outros avanços que poderíamos alcançar.

Não quero dizer que devamos ignorar os problemas, mas sim, que o foco constante em arranjar culpados e em querer ter razão, nos acaba por ensombrar, ficamos assim sempre centrados no passado, o que nos impede de prosseguir e avançar.
Para avançar é preciso esperança, motivação, sonhar… E isto não passa por estatísticas, porque se pensamos nelas, castramos qualquer sonho.
Num país, onde 85% são micro empresas e 11,9% são pequenas empresas, estes trabalham e produzem no país real, e esta é a realidade da maioria das pessoas…
A situação da crise ocorre sobretudo no sector bancário e da falta de confiança dos investidores, onde vemos crashes da bolsa e as ondas de choque internacionais. Depois esquecemo-nos que a maior parte do país real nem sequer está cotado na bolsa, que os crashes fizeram sobretudo com que os ricos ficassem menos ricos… No entanto veicula-se constantemente notícias fatídicas, alastrando a ação do mercado de especulação a todo o país real, outrora mais alheio às flutuações da bolsa... As consequências estão à vista, na subida do desemprego, na queda da confiança dos investidores, nas subidas das taxas de juro. E lá estamos outra vez num campo pouco palpável, onde se estrangula performances reais com base de novo na especulação.
Considero grave e perigoso, a facilidade com que se veicula tanta notícia deprimente. As más notícias sempre “venderam” mais, mas é pernicioso brincar com a moral, a confiança de todo um país que está a envelhecer porque tem medo do futuro. Então traduz-se nas famílias, no investimento, nas vendas, no aumento das doenças mentais, do suicídio. O estado negativo do indivíduo, leva a uma maior produção de cortisol, o que leva à obesidade, à depressão... estes são indícios, de que precisamos trabalhar mais os intangíveis, de dar mais importância aos afectos e à motivação...
Há dias, assisti a um evento sobre expatriação e mobilidade, a respeito das novas realidades laborais das empresas atuais, e é interessante ver como rapidamente encontramos uma série de virtudes no trabalhador português, no entanto todos apontam como somos fatídicos, mas que também trabalhamos muito melhor “lá fora” do que “cá dentro”.
Neste evento, o secretário de estado lançou o repto, questionando-se porque os jovens de hoje deslocados no estrangeiro, já não ponderam da mesma forma voltar, como acontecia à geração emigrante dos anos 60 (aquela geração que construía as casas na sua terra natal, fazia cá o PPR e mandava o dinheiro à família).
Dos casos que eu conheço, alguns bem próximos, existem algumas diferenças na geração atual deslocada no estrangeiro, que lhes coloca o regresso ao país, numa “bandeja” menos apetecível:
- Estas pessoas sentem, que ao regressar, andam de “cavalo para burro”. Porque vêm um mercado que não valoriza as suas competências.
- Arriscar por conta própria, é mesmo isso – um risco, porque a carga fiscal é imensa, e a justiça é morosa, logo não agiliza eventuais problemas em tempo útil e trabalha-se para o Estado.
Poderia enumerar muito mais, mas o cerne está mesmo aqui - nas PERCEPÇÕES, aquelas que todos nós temos do nosso país! E isto leva-me à razão inicial pela qual escrevo este texto. A fatalidade do queixume tipicamente português, aproveitada e enfatizada pelos media, tem muita culpa na imagem mental que construímos de nós próprios enquanto nação.
Há que trabalhar nisto arduamente, e muitos empresários já o estão a fazer: Os têxteis que desenvolveram tecnologia única, com tecido anti-malária (patente exclusiva portuguesa), já a vender para militares e países em todo o mundo. O sector do calçado que tem apostado em design, marketing, aliado à qualidade que sempre existiu, conseguiu catapultar o calçado português para o circuito da moda e do styling mundial. A cortiça em empresas como a PELCOR, que desenvolveram produtos inovadores e estão em mercados reconhecidos internacionalmente. A Ach Brito/Claus Porto, que ousou primar pela diferenciação numa época em que se massificava, etc, etc… E muito recentemente, depois de todo o fado da crise, tivemos as melhores exportações de sempre, nem há memória de ter a balança comercial favorável neste campo. Portugueses de mangas arregaçadas, que têm feito uma caminhada esforçada e conseguiram mudar a percepção de que o que é “made in Portugal” é muito bom.
Mas neste campo das percepções há ainda muito a fazer, porque se por um lado, estas empresas e pessoas têm lutado e conquistado contra todas as circunstâncias. Por outro, a liderança política e os meios de comunicação têm falhado em mobilizar e motivar para mudar esta nossa tendência negativista do tuga rezingão queixoso…
Com isto digo, que devemos de parar com o foco apenas nos números e nas circunstâncias, senão deprimimos mesmo… ficar permanentemente a olhar para trás impede de progredir e assim se mata a esperança. A liderança das empresas já começou a aprender que é necessário ser um entusiasta, levar os colaboradores a vestir a camisola, envolver, ser um exemplo, capaz de elevar as performances, onde 2+2= 5 e se constrói para além do expectável…
Por isso há que investir mais na forma como se comunica com a sociedade ao mesmo tempo governar por exemplo: onde não há prescrições nem impunidade face à injustiça. Mostrar estes exemplos à sociedade, alavanca a confiança, mostra que vale a pena trabalhar num país que defende os seus. E, em simultâneo mobilizar os media a participar desta construção.
Determinados líderes mais carismáticos, conseguiram popularidade porque têm esta capacidade de comunicar de forma mais autêntica (e atenção que isto também é fabricado).
Vemos o exemplo de Barack Obama, e agora falo estritamente em aspetos de comunicação e não de política. Todos os especialistas em linguagem corporal afirmam que líderes como Barack Obama, coadunam muito bem o discurso com a sua postura física, e a juntar a isso, este utiliza algumas técnicas que são muito eficazes:
-Usa o sentido de Humor; é capaz de gozar consigo mesmo; até aceita convites a programas de comédia... sem perder a dignidade, claro. Mas tudo isto é comunicação, que cria empatia com o público.
-Enumera e simplifica a mensagem, de forma a criar pontes com quem ouve, estabelecer paralelos, pensar em quem está a ouvir, de forma clara e com palavras acessíveis a todos.
-Aborda o tema de forma apaixonada e tantas vezes molda o discurso como uma conversa. Isto cria uma ligação com o público e ainda mais quando junta histórias pessoais (nunca tal foi ouvido em Portugal). Mas estes aspetos criam laços que permitem o interlocutor identificar-se, que passam a ver o político não de forma distante, mas como alguém que está a esforçar-se por trabalhar, por fazer o seu melhor, que precisa do apoio da nação.
-Admite que falha. Isto mostra um aspeto humano, que lá está, cria identificação. Por vezes cai-se no erro de achar que apenas promovendo e prometendo se vai granjear admiração, mas muito pelo contrário… Hoje, já estamos tão fartos de publicidade enganosa e de promessas que não se cumprem, que mostrar vulnerabilidades, só ajuda no processo de identificação, criando empatia, simpatia e até carinho. 
Apesar de algumas medidas controversas, Obama consegue ser popular, mais pela capacidade de gerar empatia e criar esperança no povo, do que propriamente pelo caminho político desenvolvido, e isto passa por saber usar os meios de comunicação...

O carisma está em parte relacionado com aspetos inatos, mas este grau de eficácia são sim, competências treinadas e aperfeiçoadas, por quem tem muito bem a noção do poder da comunicação. Por vezes, poderá até não ser assim tão genuíno, mas cria algo de muito importante – A ESPERANÇA. Quem ouve um líder carismático, inspiracional, sente-se motivado, mobilizado a fazer mais e melhor. Isto afeta toda uma performance, porque leva as pessoas a superarem-se.
Falta-nos esta capacidade de inspirar, os bons exemplos de empresas e empresários que não baixaram os braços são ótimos… mas falta a liderança política que inspira. Esta perceção negativa que os jovens têm do seu país, não os convida a voltar, mobiliza-os cada vez mais a partir… 
As abelhas também não deveriam voar segundo as leis da física, mas há sempre algo mais que não se explica com dados lógicos...
Mudar percepções vai além dos números, além das estatísticas, e constantes más notícias só fecham mais os horizontes e limitam a ambição, e assim perde-se a esperança até que se deixa mesmo de sonhar!

Não subestimem a capacidade humana, o poder da motivação, do sonho, da paixão...
É simples, mas tão verdade (como dizia António Gedeão): 
        “Sempre que um Homem sonha, o Mundo pula e avança”.

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